sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Curtos e curtíssimos

Estava sem cigarros. Saiu pela mesma porta que entrou quando se conheceram e nunca mais voltou.

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Tal qual uma besta selvagem, criou-se involuntariamente. Nasceu e cresceu. Se alimentou das minhas fraquezas..., das minhas incertezas... Chegou sem ser convidada. Foi estúpida, seca e vazia. Não teve porquê. Apenas veio e explodiu.

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Meu esconderijo

Ela esconde as minhas cartas de amor, guarda meus sentimentos, alimenta os meus desejos. Sua loucura incompreensível me fascina. Seu corpo nu, rígido, dá prazer à curiosidade das minhas mãos. Sempre que se abre, sinto que ainda há um mundo a descobrir. É só minha. Minha pequena. Tranco a sete chaves e não deixo ninguém entrar.

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A boca rachada pelo sol, o vinco das bochechas, aquele sorriso amarelo... Nariz e orelhas alongadas pelo tempo, o olhar perdido em alguma esperança do passado. As mãos calejadas, o cabelo loiro, opaco, ressequido. Talvez em outro tempo, em outro lugar, aquela senhora de expressão tão severa pudesse ter sido miss.

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O vestido estampado, o batom na boca já rachada pelo tempo. Tinha perdido o corpo da juventude, a elasticidade da pele, mas não a vaidade.

 

André Tavares

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