sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Queridos Desconhecidos

Em menos de meia hora estavam íntimos. Tudo que sabiam um do outro ia até a primeira página. Ela, divorciada aos 25. Ele, pai solteiro aos 26.

Tudo fora rápido. Uma troca de olhares antes de começar o filme. Um esbarrão, uma súbita impressão de que se conheciam de algum lugar.

Ela, corou e sorriu embaraçada. Ele, tímido, apenas balbuciou um pedido de desculpas. Coincidentemente iam para o mesmo lugar: tomar um espresso na bomboniere da livraria ao lado. Caminharam lado a lado por alguns instantes até ensaiarem um diálogo. Tudo muito superficial, alguns comentários sobre o filme, previsão do tempo...

Primeiro gole de café e um sorriso se estampou no rosto dela. Lembrou de uma cena hilária. Ele, impressionado, só conseguia reparar na sua boca. Aqueles lábios rubros, carnudos, faziam um conjunto perfeito com o seu nariz e seus olhos.

Ela percebeu e trocou de assunto. Tentou lembrar de onde se conheciam. Amigos em comum? Faculdade, praia? Amigo do ex? Não, não queria lembrar daquele canalha agora. O desconhecido era lindo. Aquele olhar de cachorro pidão a seduzia. A situação a envolvia.

O café acabou com aquele gosto amargo. O assunto também já estava chegando ao fim. Só restou um petit four no pires e um sorriso já sem graça. Ele pegou na sua mão, se aproximou. Os corações descompassaram, o sangue pulsou mais forte. Ela tentou disfarçar. Desviou o olhar. Não era daquelas. Tinha que resistir. Não poderia se entregar a um estranho. Não, não pode... Sentiu no lábio molhado o sabor de um beijo roubado. Ficou sem ação.

A noite estrelada tornou-se palco de uma paixão momentânea. Cúmplice de dois amantes que se entregavam aos prazeres da carne.

Um beijo de despedida. Nenhum número.

Qual era mesmo seu nome?
André Tavares

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